Os chamados “tamancos de forra” eram acessórios utilizados pelas negras que conseguiam conquistar sua alforria na Bahia colonial – muitas vezes por trabalharem em regime de “ganho”. Aqui, além dos próprios sapatos – símbolos precários de uma liberdade somente anunciada mas nunca conseguida em sua plenitude – as plataformas robustas era utilizadas para dar altura física aos corpos conferindo-lhes uma impressão de imponência e altivez.
Não a toa, esse tipo de calçado passa a habitar o imaginário urbano das mulheres negras vendedoras de quitutes, sendo um acessório recorrente das conhecidas (genericamente) como “baianas”. No caso específico desta peça, há uma aproximação das narrativas do imaginário popular que interligam a ideia dos sapatos como um símbolo da conquista pela liberdade de pessoas escravizadas ao mesmo tempo que os calçados são formados pelo próprio material que catalisa os processos de subjugação e abjeção racial no Brasil: o açúcar.
