Apresentada em Arraial D’Ajuda, “Chagas #2” faz um diálogo com o culto à Omolu – meu orixá de cabeça e aquele que rege a doença e a cura. Remonto a cosmogonia do orixá ao me banhar com água do mar e folha de bananeira. Através de uma das versões do mito na tradição do candomblé, Omolu foi abandonado ainda bebê na beira do marcom o corpo coberto de chagas. Yemanjá, com seu espírito maternal, cuida de suas feridas com folhas de bananeira. Omolu se mostra como um homem lindo e cheio de luz.
Estabelecendo um intercâmbio com essa memória ancestral, encaro minha interação com as folhas de bananeira como um fechamento de feridas abertas, um novo ciclo que se fecha e que deve ser superado. Após essa ação na praia, componho cantos de pipoca, alimento sacrificial do orixá, em alguns locais de Arraial D’Ajuda – como uma ação poética de fechar feridas abertas da memória, como uma experiência de amenizar as dores e as chagas que maculam a história daquele local.
Arraial D’Ajuda – Bahia – Brasil
Registros: Juan Montelpare