Bejé Oró #3

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“A obra tem o título de ‘Bejé Oró’ e é uma referência ao universo mítico que perpassa e une Ibeji-Cosme e Damião-erês. Assim como fazem alguns nativos da Nigéria, do Benin e do Togo quando um dos gêmeos morre antes de serem fotografados juntos, o artista se fotografa duas vezes, fazendo de sua própria imagem duplicada a imagem de seu irmão. Atento à modificação iconográfica das imagens domésticas dos santos gêmeos, Tiago transforma a Palma-dos-Mártires em Espada-de-São-Jorge.

Pelo estranhamento causado, os detalhes que mais chamam atenção e se vinculam a essa etapa da tese é o colar de chupetas e a embalagem de amaciante em formato de ursinho de pelúcia que o artista segura. O colar de chupetas remete ao coletivo, às várias crianças, vivas e mortas, vinculadas aos gêmeos sagrados. O amaciante traz à memoria uma célebre propaganda dos anos 90 em que o ursinho, símbolo do produto, aparecia constantemente em comerciais na televisão. A marca, além de vender o produto de limpeza, também comercializava o bicho de pelúcia. Ao portar o produto ao invés do urso de pelúcia, o artista acaba por fazer referência às infâncias pobres, desprovidas da possibilidade de acesso aos bens de consumo, mas que criativas, brincam com a embalagem do produto de limpeza, como se fosse o urso de pelúcia que não podem possuir. Isocronicamente, a embalagem de plástico resignificada dialoga intensamente com os tipos de brinquedos oferecidos aos gêmeos meninos, a Doum e aos erês.”

Texto crítico de Tadeu Mourão em “De médicos a meninos: vitalidade gemelar na escultura doméstica popular dos santos Cosme e Damião no Brasil”.

 

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