“Composições simples para ouvir ancestrais” é uma evocação e um retorno à matricialidade afrobrasileira por meio da imagem de Yemanjá – rainha dos mares e mãe de todos os orixás. As conchas, em diversos contextos, aludem à maternidade, ao útero e à concepção, arquétipo ligado à essa divindade afro-brasileira.
Neste trabalho proponho uma imersão dentro de uma caixa tendo como experiência poética o contato simples e sensível com conchas do mar, reivindicando um acolhimento da minha ancestralidade. Através das palavras que intitulam o trabalho, do corpo e da ação de me colocar sob as conchas, construo uma narrativa ancorada nas teias da memória. O trabalho se ambienta em práticas rituais e no símbolo religioso de forma metafórica e ressignificada. As conchas são utilizadas em assentamentos de axé do orixá Yemanjá, deusa que faz parte da minha constituição espiritual na tradição do candomblé.
De tal modo, a construção da minha poética se referencia em matricialidades afro-brasileiras – traço fundante da minha região de pertencimento, o Recôncavo da Bahia. Os signos da África enquanto pilar fundamental para constituir a brasilidade dão sustentação à minha incorporação criativa.