No trabalho “Passar em branco”, há uma tentativa de identificar uma continuidade dos sistemas coloniais no que tange as relações de trabalho e raça no Brasil. Uma fricção entre as ruínas da construção colonial e materiais que remetem ao presente – como o ferro de passar elétrico. É uma obra que tenta falar do e para o tempo de agora, que não se propõe em ser histórico. Questiona-se sobre quais as atividades que as pessoas negras são vinculadas e os motivos pelos quais elas continuam sendo aquelas destinadas ao ambiente doméstico, da servidão, da força braçal. Ressalta a existência de uma estrutura em que raça e divisão de trabalho estão em plena associação e reforço mútuo.
A brancura tem uma posição estratégica na obra em uma posição de contraste com as ruínas, com a negritude corporificada no artista e também num dado cromático de como muitos eletrodomésticos possuem uma cor clara como uma tentativa de “neutralização” desse trabalho braçal racializado.
O trabalho foi realizado nas ruínas do antigo Engenho da Vitória, em Cachoeira, no Recôncavo da Bahia – um casarão construído no início do século XIX às margens do Rio Paraguaçu, logo, tendo uma posição estratégica na geolocalização da Bahia colonial.