Nos trabalhos “Refino #3” e “Refino #4”, há uma aproximação com a iconografia sobre o trabalho negro nos sistemas coloniais, insistindo na necessidade de revisitar, estranhar e interferir nas historiografias do Brasil. A obra de Jean-Baptiste Debret é tomada como mote para essa investigação. Nas incursões pelo Brasil durante 15 anos, o artista francês – incumbido de integrar uma missão para a instauração do ensino de Belas Artes no Brasil – produziu uma série de trabalhos que retratavam pessoas negras escravizadas no século XIX. Embora muitas de suas obras tragam registros de trabalhos forçados e torturas, suas anotações sobre aqueles contextos naturalizavam o fato de estarem escravizadas e considerava exótico o “arcaísmo” daqui em comparação a uma Europa pós-Iluminista. Há também o próprio fato de Debret apelar para os discursos das leis brasileiras da época como justificativa de castigos e vilipêndios públicos.
As imagens de Debret são ainda hoje muito utilizadas como materiais iconográficos sobre a escravidão no Brasil. E as imagens históricas se repetem na atualidade em cozinhas, casas de fundos e subempregos destinados à população negra.
O açúcar aparece no vídeo a partir de uma necessidade de apagar a reprodução da violência, chamando atenção novamente para como o açúcar esteve e está presente na construção de estratificação social. E, ao mesmo tempo, escavar/revelar quão vil foi o processo colonial em torno da produção desse produto e o impacto que ele causa na atualidade um século depois do declínio desse modo de produção. O que é descortinado quando executamos uma arqueologia do açúcar?